sexta-feira, 28 de novembro de 2008

E há ainda quem reclame de falta de tempo


Giselle (primeira à direita) na rádio Guetto FM


Por Lucilia Bortone e Rachel Morandi

Se você circula pelos corredores da Faculdade de Comunicação Social (Facom) da Universidade Federal de Juiz de Fora, com certeza já viu essa pessoa. Giselle Clara, ou simplesmente Gi, é uma figura muito especial, sempre sorridente e simpática com todos. Possessiva, ciumenta e determinada, como ela mesma se define, Giselle participa de diversas atividades extracurriculares na cidade.
Como parte da disciplina Comun
icação Comunitária, a estudante de 21 anos e seus colegas escolheram uma comunidade carente de Juiz de Fora para trabalhar. “O trabalho comunitário surgiu da idéia de se fazer algo por outras pessoas. O pontapé inicial foi da professora Cláudia Lahni. Eu e o meu grupo decidimos pelo bairro Santa Efigênia”, diz Giselle. Quando conversaram com um dos principais nomes da comunidade, Jefferson, o grupo descobriu que existia uma rádio no local, a rádio Guetto FM.
Com um esforço fora do comum, Giselle conseguiu conciliar três atividades ao mesmo tempo: fazia faculdade, trabalhava na CEMIG e à noite estudava no Centro Técnico Universitário. “Acho que a minha lógica é “quanto mais tempo de ócio eu tenho, menos coisas eu faço”, então eu ocupo meus horários”, contou a estudante de comunicação.
Na rádio Guetto, Giselle e seus colegas fizeram, como trabalho voluntário, um programa cultural que abordava temas importantes como gravidez na adolescência, drogas e emprego. Segundo Gi, a rádio Guetto FM foi uma grande experiência porque pôde ter contato com pessoas que trabalhavam com rádio sem ter aprendido a técnica e conquistou muitos amigos. “Eles me davam dicas de como atrair a comunidade e gostavam de ver como era produzir um programa cultural, com roteiro, entrevista e tempo pré-definido. Foi uma grande troca”, concluiu Giselle. A meta dos estudantes era mostrar para a comunidade a realidade de uma emissora de rádio, ensinar um pouco do que aprenderam nas aulas.
Para quem sempre participou de atividades fora do ambiente escolar, Giselle acredita que só se aprende fazendo. “A prática é diferente da teoria e o melhor de tudo isso é aprender a se virar com os imprevistos. Na rádio eu tive que fazer muito disso. Entrevistados que não podiam comparecer, músicas que não tocavam e outras coisas”.

A grande escolha

Como qualquer adolescente em fase de vestibular, Giselle também teve dúvidas quanto à carreira que gostaria de seguir. Prestou vestibular para Direito, mas percebeu que a carreira não combinava com ela. “Era tudo muito certinho e metódico. Não daria certo. Apesar da minha “facilidade de convencer as pessoas, segundo amigos e pessoas próximas”, percebi que não daria certo atrás de uma pilha de processos. Foi então que eu resolvi “colocar a cara a tapa” e fazer Comunicação”.

Giselle e os companheiros no Fórum da Cultura

De volta às origens

Giselle sempre gostou de teatro, desde criança participou das peças do colégio e gostava de ter muitas falas. “Eu era uma aparecida”, brinca Giselle que além de participar do grupo de teatro fazia parte do grupo de dança, do coral e sempre era a oradora da turma.
A estudante lembra de uma história especial para ela, uma das primeiras peças que encenou quando tinha 10 anos. Ela interpretava a Virgem Maria. O figurino era improvisado e a personagem vestia três véus – um branco, um azul e uma renda. Como Giselle era muito pequena, os véus eram lençóis de casal presos em sua cabeça com grampos. “Nunca vou me esquecer da dor que eu senti depois do espetáculo no pescoço e na cabeça. Ainda bem que foi uma apresentação só. Se eu agüentei uma hora do meu cabelo sendo puxado por um grampo, eu descobri que amava aquela arte”.
E a paixão perdurou. Em 2008 o reencontro aconteceu com uma oportunidade de trabalhar no Fórum da Cultura ao lado de José Luiz Ribeiro, ex-professor de Giselle na Facom e um dos maiores nomes do teatro juiz-forano. O fato mais interessante de trabalhar lá, do qual Giselle nunca se esquecerá, foi a primeira frase que ouviu do professor José Luiz Ribeiro, diretor do Grupo Divulgação. “Menina, essa vaga era pra ser sua mesmo. Tinha uma menina que tentou a bolsa, ela já trabalha aqui com a gente, tem todo jeito com criança e adolescente porque ela faz Letras. Ela tava com nota 100 em tudo. Mas a última pergunta ela não respondeu e você passou na frente!”, disse José Luiz. “Foi meio impactante ouvir isso, não sei se era um elogio ou uma repreensão”, conta Giselle.

E há ainda quem reclame de falta de tempo

Enquanto uns mesmo não exercendo muitas atividades reclamam da falta de tempo, outros procuram realizar cada vez mais funções. No início do ano, Giselle, que era monitora de uma das turmas de teatro, ganhou a oportunidade de dar aulas enquanto a professora e atriz, Márcia Falabella, estava estudando na França. “Eu era a monitora da turma. Com o passar do tempo ao lado do José Luiz eu fui aprimorando meus conhecimentos e aprendendo muito sobre o fazer teatral. Eu substituí, de maneira bem modesta, a presença da Marcinha. Como ela precisou viajar devido a seus estudos na França, eu trabalhava o aquecimento vocal e o relaxamento dos alunos”.
Em julho deste ano, Giselle fez uma apresentação no palco com os alunos de seu projeto, e em 2009 deve encenar pelo menos uma peça de temporada maior. E se sentir importante para os adolescentes e crianças do grupo foi algo a mais na história dela. “Eu ajudei cada um dos adolescentes do grupo a criar a personalidade do personagem. Eles tiveram muita dificuldade de incorporar o papel. Acho que eles encontraram em mim uma referência mais acessível, pois o Zé e a Marcinha são conceituados atores e eu era mais uma deles”.
Hoje, o Fórum da Cultura ocupa um espaço muito importante na vida de Giselle. “Trabalhar lá trouxe à tona todo o meu amor pelo teatro e a imensa vontade de voltar ao palco, como personagem. Acho que durante todo este período eu fui mais aluna, do que professora. Os meus ensinamentos vieram de todos os lados. Dos grandes atores, ao mais tímido dos alunos e sinceramente, isso valeu muito a pena”.


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