domingo, 15 de março de 2009

"Estupra, mas não mata"

Por Daniel Couto

"Estupra, mas não mata". Se engana quem pensa que a frase que abre este texto foi inspirada no célebre político Paulo Maluf. Tão polêmico quanto falar de política é falar de religião. E é esse o assunto que norteará as palavras a seguir.

A excomunhão de dois médicos da equipe cirúrgica que interrompeu a gravidez de uma menina de nove anos, violentada pelo padrasto, esquentou o noticiário nacional nas últimas semanas e, mesmo agora, com a poeira abaixando na mídia, continua me proporcionando algumas reflexões sobre a fé católica.

Não é de hoje que temos os mais claros exemplos do retrocesso em que se encontra a Igreja. Questões como o aborto, o uso da camisinha e da pílula anticoncepcional e até o modo como são celebradas as missas me causam profundo desânimo. As duas primeiras questões não deveriam nem ser discutidas aqui. Mais do que uma questão ética ou filosófica, o uso de preservativos e de pílulas são uma questão de saúde pública. Mesmo com os avanços da medicina, o número de pessoas infectadas com o vírus da Aids em todo mundo é alarmante e o controle de natalidade em vários países também é extremamente preocupante.

Se a igreja é tão a favor da vida humana, como explicar atitudes como as descritas aqui ? Como explicar a atitude do Arcebispo de Olinda e do Ceará que excomunga os médicos e os familiares da menina estuprada e, praticamente, perdoa o estuprador ? Talvez o Paulo Maluf tivesse razão. "Estupra, mas não mata".

A igreja deveria rever seus dogmas e ultrapar-se, para, dessa maneira, criar um elo mais forte com a sociedade e, assim, conquistar de volta os descrentes em sua conduta (como eu).

Deveríamos ter na igreja a resposta para nossos questionamentos existenciais e o preenchimento de nossa carência espiritural, e não um órgão de controle e censura da sociedade.
E olha que não estou pedindo por bancos macios, uma arquitetura paroquial que proporcione menos eco e padres mais extrovertidos. Apesar de necessário, longe disso.

Ou a igreja reconquista seus fiéis ou teremos, em breve, um mundo descrente. E será que isso seria tão ruim ?

Um comentário:

Toddy Break disse...

Boa, Catatau!!
Texto muito bom, mas preciso deixar uma resposta!
E acho que vc já esperava isso de mim, né??
Rsrs!
Bjoo,
Camila Lima