segunda-feira, 30 de março de 2009

“Perdeu, preibói”


Por Marina Alvarenga Botelho


Terça-feira, 24, 18h27min. Eu e meu amigo Rodrígo acabávamos de passar pelo portão da UFJF em direção ao shopping. Caminhávamos conversando e rindo. De repente dois sujeitos descem de uma trilha do barranco.
- Perdeu, preibói, perdeu preibói.
(Até então, Rodrigo e eu pensamos que eram dois amigos conversando entre si)
- Não corre não, não corre!
- Passa a mochila, passa a mochila.
- Vaza, preibói, corre preibói.
Eles tinham uma escopeta. Ou poderia ser uma arma forjada. Mas para gente era uma escopeta. Nos vimos diante daquela situação que acontece todos os dias, com todo mundo, menos com a gente. Entramos em uma farmácia, pedimos o telefone, 190, assalto, viatura, boletim de ocorrência.
Muitos são os relatos de furtos e até de homicídios na região ao redor da campus. Da guarita da entrada da UFJF pela Av. Independência daria para ver tudo o que aconteceu. Mas parece que esses “guardinhas” responsáveis pela segurança dos estudantes e de todos que passam por ali, não fazem nada.
Segundo reportagem da Tribuna de Minas do dia 29 de março de 2009, a participação de adolescentes em atos infracionais aumentou 72,5%. De março de 2008 a março de 2009 foram contabilizados 916 infrações cometidas pela população jovem, contra 531 casos no mesmo período de 2007.
No caso do episódio ocorrido com a gente, os suspeitos são dois menores de idade residentes no bairro Dom Bosco. A população já falou à polícia de como eles haviam forjado uma arma similar à escopeta, e quem são. Já que têm menos de 18 anos, ficarão soltos por aí, para furtar sempre que quiserem.
Um dos policias que nos atendeu na delegacia, no dia seguinte, nos contou como as nossas coisas irão rapidamente ser trocadas por drogas em uma boca de crack. O atendimento na delegacia foi demorado, havia pouquíssimos policiais para atender, o sistema estava constantemente fora do ar, e havia uma pilha gigantesca de vários casos que serão examinados antes do nosso. A chance de recuperarmos qualquer coisa é praticamente nula.
Mas, burocracia à parte, de fazer documentos novamente, o fato é que realmente nós perdemos. Realmente somos os “preibóis” da história. Facilmente compraremos tudo de novo. Sabemos que aqueles materiais roubados não tinham o menor valor pra gente, e muito menos para os assaltantes.
Esse ato pode ser explicado por situações extremas. Uma amiga, (a Mari) que sofreu também situação de estar cara a cara com criminosos e armas de fogo, disse que seu sentimento foi de culpa. Culpa por termos tido oportunidade que eles não tiveram. De não fazermos nada para mudar isso.
Talvez seja mesmo. Mas talvez essa culpa da crescente criminalidade seja do “sistema”. Por ser tão excludente e por apresentar tão poucas soluções. O que a gente pode fazer diante disso tudo? Não sei, mas o sentimento que eu tive foi o de impotência. Por ser só mais uma cidadã, potencial vítima de situações criminosas, por não ter o que fazer para ajudar a melhorar tudo isso. Como diz Betânia, logo abaixo... Mais uma vez, a violência.






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