quarta-feira, 17 de junho de 2009

Ética e Política: incompatibilidade desde as origens

Por Anamaíra Spaggiari

Um termo tanto quanto subjetivo e passível de interpretação, a ética está inserida numa linha tênue referente à boa conduta do ser humano, esta que está entre o que é bem e mal, estes que, por sua vez, também são subjetivos. A partir de um termo tão difícil de ser conceituado, antever as polêmicas das quais ele discorre e que podem ser discorridas por ele é inevitável.

A relativização do termo e suas consequentes polêmicas são abordadas na matéria “Ética combina com política?”, do Jornal O Tempo, do dia 14 de junho de 2009. “Ética” e “política”, a partir de suas etimologias, podem ser considerados inconciliáveis, já que o primeiro trata do caráter do indivíduo, enquanto o outro abrange a sociedade como um todo. Essa incompatibilidade leva às dificuldades de conciliação desses conceitos numa única prática.

De acordo com a senadora Marina Serrano (PSDB-MS), titular do Conselho de Ética do Senado, “A ética é a mesma em qualquer lugar. Ela não pode ser observada só no âmbito da política. É uma questão de valores que nos leva, por exemplo, a tratar bem o dinheiro público como trataríamos as finanças privadas”.

Num âmbito mais amplo, é possível verificar as diferenças do que é considerado ético em diferentes países, que estão inseridos num contexto sócio-político-econômico-cultural, sendo que todas estas instituições interferem na concepção do termo. A ética é uma construção social de valores que variam de local para local ou dentro de uma mesma localidade, mas em instituições diferentes.

A questão de valores, como colocada pela senadora, talvez seja muito mais algo individual, que social. Comparar o tratamento dado ao dinheiro público ao das finanças privadas também não foi uma colocação pertinente. As finanças privadas envolvem interesses particulares. Para administrá-las não é necessário pensar em interesses de um grupo. As finanças públicas, por sua vez, deve ser administrada a partir das necessidades da coletividade.

E o que seria tratar “bem” uma finança privada? Para alguns, gastar seu dinheiro satisfazendo suas vontades mais impulsivas é uma forma de tratar bem a finança. Assim como para outros, a melhor administração seria economizar para um investimento maior no futuro. Se para ela, os valores que envolvem o gasto público são os mesmos do privado, isso dá direito aos políticos de usarem o dinheiro público como quiserem.

Todos esses termos são perigosos e foram simplificados pela senadora, colocando em risco e submentendo a sua imagem às críticas. Os valores não são os mesmos. Para que se trate com ética os gastos públicos, é preciso levar em consideração os valores socialmente estabelecidos e enraigados da nação.


Nenhum comentário: