sábado, 20 de junho de 2009

Desabafo jornalístico.

Por Daniel Couto



Ok. O diploma caiu, muito se discutiu, pouco se refletiu e nada de novo se construiu. Quando o canudo estava ameaçado pouco fizemos. E agora ? Agora a situação me lembra aquela música dos fanáticos amigos futeboleiros: "Ninguém cala esse chororô".

"Vou fazer o que com o diploma ? Limpar a bunda ?"

"Ai meu Deus, vou mudar de curso. Vou trancar e tentar artes cênicas”.

"Era melhor ter feito o curso de operador de Mini-DV do Senai!”

Realmente não foram poucos os queixumes proferidos nos corredores da faculdade nos últimos dias e, na minha opinião, pouca coisa vai mudar. Não que eu queira isso. Mas todas as questões levantadas com o fim do diploma sempre estiveram a nossa frente e nós, "futuros jornalistas", nem sequer a discutimos. Nem mesmos nossos "mestres" iniciaram o debate. Talvez até pelo fato do maior interessado nessa história toda sermos nós mesmos.

Desvalorizada a profissão já está há tempo. Não precisa apurar muito pra saber: são pouquíssimos os profissionais da nossa cidade (e tantas outras) que ganham acima ou, pelo menos, próximo ao valor estipulado para o piso salarial da profissão. Os apadrinhamentos em redações de jornais, canais de TV e outros meios sempre ocorreram com ou se a exigência de diploma. E o que falar da qualidade da informação ? Nessa tecla acho que eu nem preciso bater (lembremos: a maioria da população ainda se informa pelos ditos jornais populares e canais de tv aberta).

Antes que me atirem pedras na faculdade, deixo claro que SOU A FAVOR DA OBRIGATORIEDADE DO DIPLOMA PARA O EXERCÍCIO DO JORNALISMO, mas acho que o diploma DEVA SERVIR COMO UM ATESTADO DE BOA FORMAÇÃO.

Utópico ou não, pra mim, jornalista tem que ser o cara que ama a sociedade, que é curioso. Não é apenas saber escrever bem. É ter uma visão crítica dos fatos. É saber transitar entre os profissionais das mais diferentes áreas. É ser atento às necessidades da comunidade que servimos e não da empresa onde trabalhamos. É um cara bem informado e que, acima de tudo, sente a necessidade de se informar e de se formar culturalmente.

O que nos resta além do conhecimento técnico se nossa formação humana e sócio-cultural é fraquíssima ? Parece que as disciplinas que estudamos nessa área só estão na grade dos cursos de jornalismos por “desencargo de consciência” daqueles que a montam. De tão superficiais, elas passam desapercebidas na nossa formação se não corrermos atrás por outros meios.

Quantas vezes você não queimou os neurônios para escrever, de maneira obrigatória, CINCO MÍSEROS TEXTOS PARA ESTE BLOG ? Para mim foi um parto. Garanto que pra muita gente foi também. Será que isso não é a MAIOR PROVA DE QUE TEM ALGO ERRADO COM A NOSSA FORMAÇÃO ?

Que jornalistas somos nós que não lemos, sequer, dois jornais diferentes ao dia ?

Que jornalistas somos nós que não conseguimos escrever nesse blog nada que vá além dos assuntos que nos parecem mais cômodos para opinar ?

Que jornalistas somos nós que só conseguimos unir as mentes pensantes da faculdade, como diz o professor José Luiz Ribeiro, para discutirmos choppadas e fundos de formatura ?

Será que estamos fazendo por merecer esse diploma ? Será que não somos nós mesmos que estamos tornando nossa profissão menos valorizada ?

Lembrando que eu me incluí nessa. Talvez seus parâmetros de boa formação não sejam iguais aos meus, mas se eles não valorizam a minha futura profissão, eu tentarei valorizar. E você ?

4 comentários:

Camila Lima disse...

Ótimo texto!
Afinal, é fácil a gente reclamar e continuar na nossa comodidade!
Mas como proceder e fazer a nossa parte para que a profissão seja devidamente valorizada?
Depende de cada um de nós, estudantes e, possivelmente, futuros jornalistas, mudar essa visão que abarca a profissão!
Parabéns, Catatau!

Giselle Clara disse...

Eu acredito nas falhas das grades curriculares do curso de comunicação, mas isso não torna a formação desnecessária. A perda do diploma foi uma agresão pessoal, a todos aqueles que escolheram se formar para exercer essa profissão. Reitero o fato de que o mais ofensivo não foi a questão da necessidade do diploma ter sido colocada em discussão. O que mais me chocou foi os outros 7 apoiadores da causa, que votaram contra o diploma sem ao menos perceber a necessidade da formação técnica e principalmente ética de todos nós. Agora, depois de três anos de faculdade eu vejo que o meu tempo foi perdido e que não interesa a ninguém. Se a gente for olhar as falhas dos currículos... nenhuma profissão vai mais ter diploma... Muita gente aprende (mesmo)a trabalhar quando está no mercado... independente da profissão.
Estou indignada com essa decisão! Só isso!

Se a comunicação foi comparada a culinária (que pode ser feita por uma pessoa com ou sem diploma) vale lembrar que uma comida mal preparada e uma informação errada podem gerar mal estar em muitas pessoas!

Giselle Clara
6 período da FACOM

Catatau disse...

Giselle, não sei você interpretou como eu, mas a falha não está só no currículo. A maior falha está no nosso próprio desinteresse. O currículo é apenas um agravante.
E eu também sou contra a queda do diploma.

Um beijo

Kel disse...

Cat, penso como vc!
se a gente nao se valoriza, quem vai valorizar??
otimo texto!
beijo friend