Rótulos são para geléias
Rachel Morandi
Não entendo porque pessoas insistem em rotular pessoas. Ninguém é cem por cento nada, gosta só de uma coisa. Por exemplo, Manoel, falando de sua namorada Joana: “Joana é morena de cabelos compridos, olhos pretos como jabuticabas, meio gordinha, mas uma graça. Sua banda preferida é Calypso, ela odeia comida japonesa. É bem-humorada, sempre gentil, quase uma 'mosca-morta”. Joana pode até ser assim na maior parte do tempo. Mas e se de um dia para o outro, Joana resolver deixar de ser mosca-morta, dá um pé na bunda em Monoel e resolve mudar de vida? Ela pinta o cabelo de loiro, bota lentes azuis, entra na academia, experimenta comida japonesa e adora, enche o saco de Calipso e passa a gostar de John Mayer, cansa de ser bobinha e aceitar tudo que fazem com ela e vira uma megera indomável?? Aí Joana terá que ser re-rotulada por Manoel.
Tá, ninguém muda assim do dia para a noite, as vezes nem tão radicalmente. Porém, nada impede que isso aconteça. Ninguém é cem por cento uma coisa e zero por cento outra. Ninguém é tão calmo que nunca fica nervoso, tão esperto que nunca se passa por bobo. Parece que ninguém nunca ouviu falar de Darwin! EVOLUÇÃO. O mundo evoluiu, evolui e continuará a evoluir. E por que as pessoas não? Ninguém fica parado no tempo. Se não, ainda iriamos ser fãs de Xuxa, Capitão Planeta, Tv Colosso e por aí vai.
É não é só a evolução que nos faz mudar. Em um mesmo instante, não podemos ser classicados por isso ou aquilo. Nossas atitudes e nossa personalidade muda conforme a situação. Quem é calmo, se muito irritado fica... nervoso. Logo, a pessoa é calma e... nervosa. Complexo, muito complexo. Mas as pessoas são assim.
Somos antônimos, ninguém é tão legal que nunca se passa por um chato. Ninguém é tão chato que em nenhum momento é legal. Ninguém é tão generoso que nunca foi um pouco egoísta, nem tão egoísta que nunca ajudou ninguém. Tudo depende. Você pode ser na maior parte do tempo, calmo, paciente, gentil, perfeccionista, pontual, certinho. Mas isso não quer dizer, que você é sempre assim, que você não possa ficar nervoso nunca, se atrasar, e resolver chutar o balde de vez em quando. Todo mundo tem várias faces, cada uma aparece por um estímulo.
Isso vale tanto para personalidade, quanto para gostos. A pessoa que gosta de axé e frequenta uma micareta, não faz isso 24 horas. Ela pode ser um estudante de Direito envolvido em causas sociais e escutar Djavan no carro. O que impede? Ele é menos micareteiro por isso? Lógico que não. Ele é menos inteligente por que gosta de correr atrás do trio nos finais de semana? Também não. O mais fiel dos devotos de uma Igreja pode gostar de Hardrock. Por que não? Uma coisa não impede a outra.
Nós somos pessoas, não somos fórmulas matemáticas: 2 + 2 = 4. Nós surpreendemos as pessoas, elas nos surpreendem, nós auto-surpreendemos. Fala sério, a vida seria muito chata se todo mundo seguisse uma lista de características e gostos e nunca nos surpreendesse. Tem coisa melhor que perceber uma coisa nova em alguém a cada dia? Essa é a graça do ser humano, essa é a graça de viver. Você não precisa se classificar em bom, ruim, chato, legal, feio, bonito, gordo, magro, intelectual, micareteiro, funkeiro. Você pode ser tudo isso ao mesmo tempo se quiser, cada um para uma situação.
Sou tantas que mal consigo me distinguir. Sou estrategista, batalhadora, porém traída pela comoção. Num piscar de olhos fico terna, delicada. Acho que sou promíscua. São muitas mulheres numa só, e alguns homens também. Prepare-se para uma terapia em grupo. Martha Medeiros em Divã.
Um comentário:
O título ficou fantásticooo!!
Preciso aprender a ser criativa nesas horas...
Ainda não li o resto :p
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