Causa aparente aparentemente resolvida

Por Anamaíra Spaggiari

Mais uma lei é sancionada no Brasil em busca de segurança nas rodovias. E mais uma vez a medida trata do problema, sem considerar sua verdadeira causa. A medida "trata"do problema, considerando a fiscalização massiva, que como sabemos, é ilusão.

Desta vez, a lei refere-se aos caminhoneiros, que devem descansar 30 minutos a cada 4 horas de direção. Apesar da lei aparentemente beneficiar os motoristas, cuja qualidade de vida supõe-se aumentar, que dirigem para sobreviver (ou não, dependendo do ângulo considerado), eles são prejudicados com a diminuição das viagens feitas e, consequentemente, do frete recebido.

Os caminhoneiros em busca de cumprir prazos de entrega trafegam por uma longa distância, durante um longo tempo, o que lhes comprometem o sono, a atenção, a qualidade de vida. Como se não bastassem os riscos oferecidos aos usuários das rodovias, muitos caminhoneiros recorrem às drogas para tentarem cumprir seu trabalho com mais eficiência. Drogas constituídas de anfetamina mantêm os motoristas acordados, para que eles consigam dirigir por mais tempo, já que eles devem cumprir um prazo de entrega determinado pela empresa na qual trabalham. São 2,5 milhões de caminhoneiros regitrados em todo o Brasil. Estima-se que 830mil bebem ou se dopam para dirigir.

A verdadeira causa de tudo isto, buscando nas origens mais remotas do problema, consiste no sistema de transporte brasileiro. Num país de grandes proporções como o Brasil, implantar a malha viária foi a opção mais barata, apesar dos altos custos de manutenção das rodovias. A alternativa de instalar uma malha ferroviária foi descartada pelos altos custos necessários no processo inicial. O que não foi considerado no momento e que poderia modificar todo o desenvolvimento do país foram as vantagens trazidas pelo uso de trens, principalmente, no transporte de mercadorias: segurança, rapidez, menor custo de manutenção.

Com a falta de um sistema de transporte adequado, os veículos terrestres de grande porte são utilizados no transporte de mercadorias, estas que muitas vezes são perecíveis e devem ser deslocadas com rapidez. Quem fica mais prejudicado pelos erros do passado e pelas medidas paliativas atuais são os caminhoneiros. Mais uma vez, o lado mais frágil.

Minas Gerais, com a maior malha viária do país, é o estado que mais oferece perigo:

Ø 36,5% dos motoristas que foram flagrados usando remédios para não dormir estavam nas rodovias de minas gerais

Ø Das 11.063 unidades de anfetamina (entorpecente) recolhidas por agentes da polícia rodoviária federal no brasil, em 2007, 5487 (49,5%) estavam em rodovias mineiras.

Ø Das 93 ocorrências, 34 foram registradas no estado.